segunda-feira, 13 de outubro de 2008

18 – A descoberta de ouro na Região de Montemor-o-Novo

Também esta descoberta se deveu a trabalhos de minha iniciativa efectuados na Secção de Montemor-o-Novo da Brigada do Sul do SFM.

Pouco antes da minha aposentação em 1990, começaram a surgir notícias, em jornais e em outros meios de comunicação social, sobre importantes descobertas de ouro na região de Montemor-o-Novo, sem menção de já haver informação publicada acerca destas ocorrências.

Tendo-me deslocado a Lisboa, aproveitei a oportunidade para apresentar ao Director do SFM documentos comprovativos da origem da descoberta, esperando que ele se encarregasse de esclarecer o País sobre o papel do SFM nesta matéria.

Tal não aconteceu, porém, perdendo-se mais uma ocasião de mostrar ao País que o SFM, então já muito enfraquecido, tivera no passado departamentos que bem souberam dar cumprimento aos objectivos do SFM, apesar das muitas dificuldades que tiveram de enfrentar.

Era uma oportunidade para mostrar ao País que providências deveriam ser tomadas no sentido de revitalizar este Organismo de criação de riqueza, essencial ao País.

À descoberta de ouro na Região de Montemor-o-Novo, fazem referência os relatórios mensais e anuais da Brigada do Sul do SFM, desde 1950 até 1962, dizendo respeito a ocorrências nas seguintes herdades: Grou, Romeiras, Defesa, Fales, Chaminé, além de outras onde os teores foram menos significativos.

Os volumes VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV e XVI de “Estudos Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”, contêm, no relatório anual do SFM, informação sobre essas ocorrências de ouro, baseadas nos relatórios da Brigada do Sul.

O primeiro indício sério da existência de ouro na Região foi encontrado, em 1950, na Herdade do Grou.

Num afloramento quartzoso, localizado nas proximidades da Mina de antimónio da Herdade das Palmas, que então se encontrava em estudo, foi detectada a presença de antimonite.
Fez-se aí colheita de amostras, que se enviaram para o Laboratório da sede do SFM, no Porto, para ser verificado se, em associação com a antimonite, existiria ouro.

O Director do SFM, fez-me telefonema para Beja, em tom estranho, começando por me perguntar a razão pela qual eu tinha enviado tais amostras para análise química.

Consciente da recomendação que me havia sido feita de limitar o número de amostras para análise, perante a fraca capacidade de resposta do Laboratório, respondi, receando nova advertência, que muitas vezes, em associação com a antimonite, ocorre ouro e eu pretendia saber se esse era o caso.

E era! A análise de uma das amostras, repetida por diversas vezes, para obter confirmação, revelara um teor elevadíssimo: 129 gr/T!

Em face deste resultado, foram feitos alguns trabalhos de pesquisa, a partir do aforamento quartzoso, tendo ficado evidenciada uma formação de muito pequenas dimensões, mas com rica mineralização aurífera.

Continuando a investigar minuciosamente todos os afloramentos da Região, várias outras ocorrências auríferas foram detectadas, às quais fiz acima referência.

Na área da Mina da Herdade da Chaminé, ainda foi efectuado um levantamento geoquímico, tendo as análises sido efectuadas em Inglaterra, aproveitando os contactos que haviam sido estabelecidos com a Companhia Lea Cross, quando ela actuara na Faixa Piritosa.
O SFM não estava, então, ainda habilitado a fazer análises por esta recente técnica. Os resultados foram francamente positivos.

Todos estes trabalhos constam de um conjunto de mais de 100 peças desenhadas, em fase avançada de elaboração, que iriam ilustrar um relatório sobre as ocorrências minerais da Região de Montemor-o-Novo – Alcácer do Sal, que não cheguei a concluir, porque, em 1963, em consequência de uma reorganização do SFM, fui investido em novas funções.

Estas novas funções, a que oportunamente me referirei, absorveram totalmente as minhas horas normais de trabalho e as muitas que dediquei, fora do horário normal, incluindo sábados e domingos. Tornou-se-me, pois impossível completá-lo.

Os vegetais de todas as peças desenhadas fazem parte do espólio que deixei no SFM, quando me aposentei, em 1990. Conservo, também, em meu poder cópias em papel ozalid.

Em 1966, surgiram em Portugal poderosas Companhias mineiras estrangeiras oferecendo atractivas condições para obterem direitos de prospecção em vastas áreas, com predomínio da Faixa Piritosa Alentejana e a posterior concessão do direito de exploração dos jazigos que forem revelados.

O Director-Geral de Minas, então em exercício, considerou útil a celebração de contratos com estas Companhias.

Foi assim que foi posta a concurso (V. Diário do Governo III Série, N.º 210 de 8 de Setembro de 1969) uma área do concelho de Montemor-o Novo, que abrange as principais ocorrências de ouro, com o objectivo de ser dada continuidade aos anteriores estudos do SFM.

A área foi adjudicada a “Mining Explorations (International) mas esta Companhia pouca actividade desenvolveu.
Todavia, os dados que lhe foram facultados passaram a figurar nos arquivos de Empresas canadianas.
É daí que provem o interesse de novas Companhias canadianas, nesta Região de Montemor-o-Novo, estimuladas pelas elevadas cotações que o ouro tem atingido.

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