segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

47 - As visitas de Secretário de Estado a regiões mineiras valorizadas pelo SFM

Em meados de 1965, o Director – Geral de Minas, recentemente nomeado para suceder no cargo ao Engenheiro Luís de Castro e Solla, apercebendo-se da importância dos trabalhos de investigação mineira que tinham sido realizados pelo SFM, nas duas décadas anteriores, no Sul do País, considerou útil que o Secretário de Estado da Indústria deles tomasse também conhecimento, tendo em vista obter maior apoio do Governo no desenvolvimento do SFM, como Organismo criador de riqueza.

Nesta ordem de ideias, começou por organizar um programa que incluía, não só visitas a Minas do Alentejo onde o SFM tinha tido papel fundamental na sua valorização, mas também á estância termal de Monchique e às Minas de sal-gema de Loulé, nas quais apenas se manifestou a iniciativa privada. Este programa terminaria com uma conferência no Governo Civil de Beja, onde seria exposta a actividade do SFM no Alentejo, perante um auditório onde estariam presentes os Governadores Civis de todos os distritos do Alentejo e Algarve e também Presidentes das Câmaras.

Para orientar estas visitas, foi elaborado um documento – guia, de cuja redacção foram encarregados vários técnicos, com recurso a relatórios oficiais ou privados constantes dos arquivos da DGMSG.

A mim coube escrever sobre as Minas de sal-gema, que nunca antes visitara e, também, a exposição no Governo Civil de Beja. Coube a outros técnicos escrever sobre as Minas cujo estudo dirigi, durante largos anos, a respeito das quais apresentei diversos relatórios.

O Director-Geral fez-se acompanhar dos Engenheiros que, em Lisboa constituíam o designado “Gabinete de Estudos”, cujas produções científicas ninguém chegou a conhecer.

Faziam ainda parte da comitiva jornalistas do Diário de Notícias, do Diário Popular, do Diário de Lisboa, do Diário do Alentejo e da Televisão.

As visitas prolongaram-se durante dois dias, começando em 24 de Agosto, pelas Minas de ferro e manganés de Cercal do Alentejo (Serra da Mina e Serra do Rosalgar), que então se encontravam em exploração.

Aqui o Director-Geral, confiante no conhecimento que tinha dos jazigos, adquirido quando da sua passagem por esta região, na década de 40, ainda como estagiário, começou, à entrada da galeria N.º 8 da Mina da Serra da Mina, cujos trabalhos íamos visitar, a expor o que sabia do jazigo. Esquecia-se de que o conhecimento deste jazigo muito havia progredido desde a distante década de 40.

Foi, então, que eu abri o relatório final acerca das 129 Minas que tinham sido registadas na região de Cercal – Odemira e desdobrando mapa onde se encontravam descritos, com todo o pormenor, os trabalhos do grupo da galeria 8, chamei a atenção do Secretário de Estado para a real dimensão do que iríamos visitar. A partir desse momento, passei a ser o interlocutor que o Secretário de Estado usou para se informar sobre os jazigos.

Na Mina da Serra do Rosalgar, tive igualmente ocasião de mostrar, à boca da Galeria da Cela, mapas (plantas e cortes geológicos) dos trabalhos interiores derivados desta galeria a flanco de encosta e as características quer quanto a constituição mineralógica, quer quanto a composição química dos minérios em exploração, que iríamos visitar.

Terminada a visita sumária a estas duas Minas, dirigíamo-nos para as Termas de Monchique, quando a viatura em que se deslocava o Secretário de Estado, acompanhado pelo Director-Geral e pelo Director do SFM, subitamente parou e o Director-Geral saiu para se dirigir a outra viatura onde eu me encontrava para eu confirmar que as rochas expostas nas barreiras da estrada eram xistos. Desiludi-o ao informar que tais rochas eram pórfiros idênticos aos da Faixa Piritosa, que tínhamos cartografado com todo o pormenor, em mapas à escala 1:5.000. Curiosamente, o Secretário de Estado, Engenheiro Amaro da Costa, pai do malogrado Ministro da Defesa do Governo de Sá Carneiro, que era natural da freguesia das Amoreiras do concelho de Odemira, ao duvidar da classificação que o Director-Geral atribuíra a essas rochas, mostrara-se mais informado que ele sobre a geologia da sua região.

As visitas prosseguiram nas Termas de Monchique, que eu já conhecia e nas Minas de sal-gema de Loulé que me impressionaram pela grandiosidade das reservas em exploração.

No regresso, após o jantar na Estalagem da EVA (Empresa de Viação do Algarve), em Ferreira do Alentejo, tive a oportunidade de fazer a minha palestra no Governo Civil de Beja subordinada ao título “Actividade do Fomento Mineiro no Alentejo”.

Durante cerca de uma hora (das 23 às 24!), mantive a numerosa assistência interessada na descrição que fiz da actividade do SFM no Alentejo, referindo com algum pormenor as técnicas modernas de prospecção utilizadas, para além dos tradicionais trabalhos mineiros de pesquisa e reconhecimento e os resultados conseguidos.

Salientei a colaboração prestada a todas as empresas detentoras de concessões mineiras, a revelação de novos jazigos minerais e a descoberta de potencialidades que antes eram ignoradas, tais como as das regiões de Castro Verde – Almodôvar, Cercal – Odemira e Alcácer do Sal para jazigos de pirite complexa idênticos aos de S. Domingos, Aljustrel e Louzal.

No dia seguinte, foram visitadas a Mina de cobre de Aparis no concelho de Barrancos, as Minas de zinco da Herdade de Vila Ruiva e Preguiça N.º2 do concelho de Moura e as Minas de ferro de Orada do concelho de Pedrógão do Alentejo, todas em franca actividade sobretudo mercê da anterior valorização pelo SFM.

Não estive presente na Mina de Aparis, porque o motorista que devia transportar-me adormeceu e eu tive que recorrer a um colega da equipa de Beja para me conduzir até às Minas da Preguiça, já que não chegaria a tempo de me juntar à comitiva na Mina de Aparis.

Aconteceu que o engenheiro que em 1964 me substituiu, bem contra minha vontade, na chefia dos trabalhos mineiros do Sul do País, após ano e meio de dirigir os trabalhos na Mina de Aparis ainda não fixara os trajectos para lá chegar! E a comitiva andou perdida durante algum tempo!

Algum tempo mais tarde, o Director-Geral resolveu fazer idênticas visitas a Minas do Norte do País.

Já então eu tinha iniciado trabalhos de prospecção por método eléctrico na área das Minas de carvão de S. Pedro da Cova, tendo registado surpreendentes anomalias de polarização espontânea que se encontravam ainda em fase de interpretação.

Conhecedor deste resultado, o Director do SFM pediu-me os mapas respectivos, a fim de os apresentar ao Secretário de Estado.

Quando as visitas terminaram, veio devolver-me esses mapas e, grande foi a minha surpresa quando me declarou que, afinal, não tinham sido necessários! Reagi, dizendo-lhe que deveria ter sido ele a provocar a oportunidade de os apresentar, já que essa era a finalidade das visitas.

Durante uma posterior presença na Circunscrição Mineira do Norte, o Director – Geral teve a atenção de elogiar a minha participação nas visitas que tinham sido efectuadas a Minas do Sul do País, lamentando não ter tido no Norte um “Rocha Gomes” que o tivesse auxiliado. Ainda lhe respondi que, se não tivera, foi porque me não convidara, pois embora a minha presença no Norte fosse ainda curta já podia apresentar resultados que não envergonhariam o SFM.

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