segunda-feira, 9 de julho de 2012

202 – Novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 25. Especial referência à Região de Cercal – Odemira

Na minha análise à versão que o Geólogo José Goinhas apresentou sobre a história da Prospecção Mineira em Portugal, com declarada “intenção pedagógica” de contribuir para novo Plano Mineiro Nacional, exigido pelo Ministro da Indústria, cheguei à fase final, caracterizada por trabalhos mineiros desenvolvidos, destinados a definir reservas minerais economicamente exploráveis.

Prospecção mineira, no seu sentido lato, era o objectivo fundamental de Organismo estatal instituído pelo Decreto-lei N.º 29725, de Junho de 1939, propositadamente para suprir a escassa iniciativa privada, em tal domínio.

Esse Organismo, designado por “Serviço de Fomento Mineiro” (SFM), ficou integrado na Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos (DGMSG).

Perante a importância que o SFM foi progressivamente assumindo, a minha análise tem-se centrado, quase exclusivamente, na sua acção.

Não pude, no entanto, deixar de salientar o facto insólito de a actividade do SFM, no Norte do País, onde se localizava a sua sede e também no Centro, durante mais de 20 anos (1940 a 1963) não ter produzido resultados significativos, por deficiente orientação superior.
A prospecção continua, pois, por fazer nessas zonas e não consta do documento em que José Goinhas, prometia indicar “Áreas potenciais para aplicação de projectos”.

Foi a Sul do Rio Tejo, que, no período de 1948 a 1963, se praticou verdadeiro fomento mineiro, traduzido em intensa actividade, nas diferentes fase da prospecção.
Dessa actividade, resultaram significativas explorações mineiras, e contratos com empresas privadas que deram continuidade aos estudos do SFM.

É certo que, no período anterior a 1948, também, no Sul do País, se registara deficiente orientação, em alguns estudos.

Referi-me, no post N.º 200, ao caso de Montemor-o-Novo.
Lembrei vicissitudes pelas quais passou o SFM, as quais foram responsáveis por considerável atraso, na execução dos estudos programados para extensa e promissora Faixa, que passei a designar por Magnetítica e Zincífera, na qual se inseria a Região de Montemor-o-Novo.

E ainda a respeito da Região de Montemor-o-Novo, não resisti a dedicar o post N.º 201, a novo artigo do “semvergonhista” Goinhas, como lhe teria chamado Odorico Paraguaçu, da famosa telenovela brasileira.
Nesse artigo, também plagiado, é apresentada, sem explicação, extraordinária anomalia gravimétrica, que, a ser genuína, seria a assinatura de enorme jazigo de sulfuretos, maior que Neves – Corvo !!!!

E Goinhas mostra total insensiblidade pelo que poderá ser o maior sucesso do SFM.

O que é grave e revelador da desorganização a que se tinha chegado no SFM, é que Goinhas tinha tarefas por cumprir, das quais eu o tinha incumbido, quando o convidei a integrar a equipa da 1.ª Brigada de Prospecção, havendo vários relatórios (Vale de Vargo, Algares de Portel – Balsa, Vale de Pães) que deviam ter sido apresentados e ainda faltavam.

Já liberto da minha tutela, nas circunstâncias a que frequentemente tenho aludido, foi-lhe fácil, seguir o exemplo de outros Geólogos, com destaque para Delfim de Carvalho.
Consciente da sua impunidade, em vez de demonstrar brio profissional e honestidade - características que eu sempre tinha estimulado a todos os meus colaboradores -, relatando trabalho que ele próprio tivesse produzido no terreno, preferiu continuar a parasitar o que se continha em relatórios internos, não publicados, sem sequer mencionar os seus autores!.

Foi assim que surgiu o artigo a que dediquei o post N.º 201.
Tudo quanto nele é relatado foi obra de outros e Goinhas nem se apercebeu da relevância do que lá apresentou.
Nem se preocupou com o facto anormalíssimo de ter ficado sem explicação a extraordinária anomalia gravimétrica, que consta de peça desenhada, apesar de ter obrigação de se lembrar da norma rígida, nos tempos em que eu chefiava a Brigada, de nunca deixar anomalia alguma por interpretar.

Também os governantes, para os quais chamei a atenção, demonstraram igual insensibilidade, não obstante eu ter invocado a minha qualidade de Investigador Principal no SFM e de Professor Convidado das Faculdades de Ciências e de Engenharia do Porto, encarregado da regência de cadeiras de Prospecção Mineira, para dar peso ao meu alerta!

Estranho País este, que assim desperdiça as suas riquezas, ou as oferece, de mão beijada, a estrangeiros, para agora, na iminência de entrar em bancarrota, lhes vir, subservientemente, mendigar ajuda.

Vêem à minha memória dois velhos provérbios:
1 - Dá Deus nozes a quem não tem dentes!”
2 – Quem dá o que tem, a pedir vem!

Quando, em meados de 1948, fui encarregado de chefiar a Brigada do Sul do SFM, a equipa técnica desta Brigada, que anteriormente era constituída por 3 Engenheiros, 1 Geólogo e 12 Agentes Técnicos de Engenharia, ficou limitada, a 2 Engenheiros (sendo eu um deles) e 7 Agentes Técnicos de Engenharia,
O Geólogo passou a ficar independente, embora actuando na área atribuída à Brigada do Sul; 2 Engenheiros e 3 Agentes Técnicos de Engenharia tinham sido requisitados para prestar serviço em Moçambique; 2 Agentes Técnicos de Engenharia tinham rescindido os seus contratos.

A actividade da Brigada distribuía-se pela sede em Beja e por diversos núcleos, denominados Secções e consistia na investigação, exclusivamente por trabalhos clássicos (sanjas, galerias, poços) do real mérito de ocorrências de minérios vários, que constavam dos arquivos da DGMSG, relativamente a áreas a sul do Rio Tejo.

Do conhecimento, que não demorei a adquirir, sobre o modo como estavam a ser cumpridos os programas superiormente aprovados, cheguei à conclusão de que o caso de Montemor-o-Novo, a que aludi, não era excepção.
Destacava-se apenas pelo facto de os estudos, nessa área, já terem sido considerados concluídos, sem resultados de interesse, quando, na realidade se tratava de uma zona com excepcional potencialidade,

Outras situações se me depararam, nas quais tive rapidamente que intervir, para corrigir não só a orientação que estava a ser seguida, mas também o modo como os trabalhos estavam organizados.

A redução do número de técnicos da Brigada não ocasionou diminuição da sua produtividade.

Verificou-se, pelo contrário, até considerável progresso, devido a mais eficaz organização, que mais se fez sentir, quando passei a dispor, de bom equipamento (grupos electrogéneos, grupos moto-compressores, grupos electro-bombas, ventiladores eléctricos, martelos pneumáticos, etc,) recebido ao abrigo do Plano Marshall.
Este equipamento permitiu substituir o que estava em utilização, e que tinha sido o único de possível aquisição, perante as dificuldades originadas pela 2.ª Grande Guerra.
Já com muito uso, tinha ficado disponível, quando a guerra na Europa terminou e as empresas que tinham vindo explorar o nosso volfrâmio, para fabrico de material bélico, já dele não necessitavam, tendo, por isso, alienado as suas concessões mineiras.

Havia até núcleos (Montemor-o-Novo, Moura e Odemira), nos quais os novos trabalhos (sanjas, galerias, poços) dependiam, de métodos artesanais. Os furos para introdução de explosivos eram feitos à broca e à maça, com o inerente fraquíssimo rendimento!

O mais importante núcleo da Brigada do Sul era, então, a Secção de Cercal do Alentejo.

Tal como acontecera em Montemor-o-Novo, também em Cercal – Odemira, as investigações começaram com trabalhos mineiros, incidindo principalmente em jazigos, que não se encontravam em exploração, apesar de incluídos em concessões mineiras, outorgadas a importante empresa privada, sendo certo que, tais jazigos não estavam devidamente reconhecidos.

Estas primeiras investigações do SFM, na Região de Cercal – Odemira, enfermaram, igualmente, de defeitos originados pela inexperiência dos técnicos nelas envolvidos.

Estavam, então, a ser cumpridos Planos de reconhecimento de dois dos mais importantes sistemas filonianos da Região:
1 - o sistema que tem a sua parcela mais importante na concessão da Serra da Mina
2 - o sistema que tem a parcela mais importante na concessão da Serra do Rosalgar.

Ambos estes Planos tinham sido submetidos a apreciação do Conselho Superior de Minas e tinham merecido aprovação.

O Plano de reconhecimento intitulado “Jazigos de ferro e manganés do Alentejo. Estudo das Minas da Serra da Mina, Toca do Mocho, Serra do Lagar da Belas Vista, Cerro do Pinheiro da Bela Vista”, da autoria de um Engenheiro de Minas, um Geólogo e 3 Agentes Técnicos de Engenharia, está publicado no N.º 12 da série “Relatórios” do SFM.

O que dele consta a respeito da geologia da Região está totalmente errado.

Está também errado o que consta sobre geologia regional, na publicação N.º 13 da mesma série, subscrita por um Engenheiro de Minas e um Agente Técnico de Engenharia, intitulada “Jazigos de ferro e manganés do Alentejo. Mina da Serra das Tulhas”.

Errado está ainda o que consta, sobre geologia regional, nos artigos publicados na Revista do SFM, com o n.º 46 no Volume III e com o N.º 74, no Volume IV, o primeiro sobre o Plano de Reconhecimento da Mina de ferro e manganés da Serra do Rosalgar; o segundo sobre o Reconhecimento das Minas de ferro e manganés de Cerro da Figueira, Nascedios, Serra Comprida, Penedo Amarelo, Cerro da Serpe e Cabeço do Coelho.

São ridículas as ilações quanto à génese dos jazigos, sem base científica e até contrárias ao mais elementar bom senso.

Na publicação N.º 12, da série Relatórios, os autores ainda se referem a artigo do Geólogo alemão, Heinrich Quiring, no qual é mencionada a ocorrência, na Região, de rochas com origem em actividade ígnea.
Não tiveram, porém a curiosidade, que seria natural, de as procurar localizar, no terreno!

O que eu constatei, nas minhas primeiras visitas a esta Região, devido à experiência, adquirida, na Faixa Piritosa, durante os 3,5 anos, em que actuei nesta Faixa, dirigindo a Brigada de Prospecção Eléctrica, foi que as rochas que predominavam em Cercal – Odemira, tinham origem vulcânica.

Eram, na sua maior parte, pórfiros graníticos, com fenocristais, por vezes, de dimensões superiores a 2 cm (Ver posts N.ºs 17 e 195).

Não é fácil de compreender como, ao fim de 6 anos de actuação, nem o Geólogo, nem nenhum dos outros autores dos relatórios citados, se tivessem apercebido dos abundantes afloramentos destas rochas porfíricas, cujo carácter identificativo está bem patente, por exemplo, na zona da Serra Comprida, que tinha sido, por eles investigada, essencialmente com trabalhos à superfície.

Por outro lado, actuando a 1.ª Brigada de Levantamentos Litológicos e a Brigada de Prospecção Eléctrica, em conformidade com instruções do Director do SFM, em estreita ligação com a Brigada do Sul, para a qual enviavam, com regularidade, relatórios das suas actividades, mais estranha se torna tamanha falta de curiosidade.

Mas as deficiências não se limitaram ao domínio da geologia.

No cumprimento dos Planos de reconhecimento dos sistemas filonianos mais importantes da Região, verificavam-se inaceitáveis divergências, não só relativamente ao orçamento que tinha sido aprovado, mas também relativamente à execução dos trabalhos previstos.

O que mais me impressionou foi o facto de o mérito reconhecido, por dirigentes da DGMSG a estes Planos de reconhecimento, nos quais abundam gravíssimos erros, ter sido usado como argumento para me fazer ultrapassar, na hierarquia do SFM, o principal autor destes Planos, o Engenheiro Costa Almeida, que era, até então menos classificado que eu (comparar, na publicação N.º 18, as listas com a hierarquia do pessoal, em 1945 e em 1946).

No próximo post, continuarei a revelar as circunstâncias em que se desenvolveu, em diferentes épocas, a actividade na Região de Cercal – Odemira.

Referirei, também, os resultados conseguidos, que justificaram a passagem à fase de “lavra activa”, nas principais minas, e a utilização do seu valioso minério, na siderurgia nacional.

Referirei, ainda, o início das investigações tendentes a encontrar concentrações de sulfuretos complexos, idênticas às da Faixa Piritosa e o que ficou por realizar, perante a progressiva degradação do SFM, que acabou por conduzir à extinção deste Organismo, que chegou a ter prestígio nacional e internacional.

Continua …

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Exmo. Eng.º Rocha Gomes,
O meu nome é Luís Miguel Martins, e sou engenheiro civil.
Tenho desde criança uma grande paixão por geologia, e deste modo descobri o excelente repositório de conhecimentos que aqui apresenta, pelo que desde já o congratulo.
Gostaria de entrar em contacto pessoal consigo sobre um assunto antigo do SFM, pelo que solicito que me contacte no meu email pessoal luismsoaresmartins@gmail.com .
Espero não o incomodar com este pedido, pelo que peço com gentileza que a ele aceda.
Com os melhores cumprimentos, um admirador, Luís Miguel Soares Martins.